Caixão ‘caído do caminhão da mudança’ ajudou a revelar esquema que levou à prisão do prefeito de Criciúma
Acordo entre funerárias para reduzir a concorrência, aumento abusivo de valores de serviços para velórios e má qualidade de produtos ofertados estão entre as irregularidades identificadas pela investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) que levou à prisão do prefeito de Criciúma Clésio Salvaro (PSD) e outras nove pessoas (veja lista) na operação Caronte, nesta terça-feira (3).
Após a segunda fase da operação, o MPSC tornou pública a denúncia de quase 300 páginas e detalhou o esquema que apura crimes de corrupção ativa, fraudes de licitação, organização criminosa e crime contra a ordem econômica.
O grupo passou a comandar os serviços funerários na cidade, que é a maior do Sul do estado, a partir de um processo licitatório com indícios de fraude para assumir a Central de Serviços Funerários.
A Central é um órgão da prefeitura que atua na orientação e encaminhamento de famílias enlutadas para a realização de serviços funerários por meio de empresas credenciadas.
Um dos casos de precarização dos serviços identificados pelo MP foi o sepultamento de um bebê de seis meses por uma família de baixa renda. A urna onde a criança foi velada apresentava furos e rachaduras.
O depoimento da mãe do bebê a uma rádio local foi anexado ao processo e ela detalha que além do caixão em condições precárias, foi forçada a comprar uma coroa de flores no valor de R$ 480.
Também contou que teve que usar um pedaço de pano para cobrir o corpo, pois se recebesse um véu, o serviço seria considerado particular e ela não receberia a “gratuidade da prefeitura”. Confira um trecho do depoimento anexado ao processo:
“O véuzinho que tava por cima dele foi um mosqueteiro que eu cortei em casa e levei pra pôr em cima dele. Flores em cima eles também não poderiam colocar porque se tornaria particular outra vez. A coroa de flores, que eu acho que foi injusto, foi um absurdo o valor que eles cobraram, R$ 480,00, e nós não tínhamos de onde tirar. (…) Foi com a ajuda de uns e de outros que eu consegui pagar esses 480, mas eu não tinha 1 real pra fazer o funeral do meu filho. (…) E aquela urna ali, ela já havia sido usada e bem usada. Tinha bastante detalhes ali como foi usada. Até a tampa de cima tava rachada”.
Além de Clésio Salvaro, que nega envolvimento nos crimes (confira a defesa mais abaixo), foram presos empresários, donos de funerárias, gerentes de empresas e servidores públicos (saiba também sobre as defesas mais abaixo).
Um dos investigados é Bruno Ferreira, então secretário de Assistência Social de Criciúma, preso na primeira fase da operação em 5 de agosto. A investigação aponta envolvimento dele na fraude que beneficiou uma das empresas investigadas.
Bruno também teve conversas interceptadas onde conversa com um dos empresários sobre o episódio do caixão precário à família do bebê. No diálogo, ele pede foto da urna funerária e comenta que o objeto era “feio” e “parecia” ter “caído do caminhão da mudança”.
Fonte: G1